Na época barroca era comum adaptar o repertório aos recursos disponíveis, toda a música era ao vivo, pelo que a única forma de a apreciar era quando tocada por quem sabia tocar e nos instrumentos que tinha. Por exemplo, imaginemos que um organista português tivesse contacto com os Trio Sonatas para Órgão de J. S. Bach. Foram escritas para dois teclados e uma pedaleira completa, como Bach esperaria na Alemanha. Mas em Portugal o órgão ibérico, que ainda hoje se pode encontrar em muitas igrejas, tinha um ou dois teclados e pedais limitados ou inexistentes.
Assim sendo, a única forma de experienciar esta música de Bach era dar uma linha a outro instrumento, no nosso caso, a flauta. Poderíamos também imaginar dois músicos a quererem tocar juntos uma Sonata de Carlos Seixas ou Domenico Scarlatti e, assim, transformá-la numa Sonata para flauta e baixo contínuo. Claro que além de fazer adaptações, era possível que encontrassem alguma partitura original para esta formação, que tocariam também. É com este espírito que construímos o concerto desta noite; dando prioridade às músicas que desejamos tocar juntos.