PROJECTOS EM CURSO
CRIASONS IV
O CRIASONS – produzido por MUSICAMERA PRODUÇÕES – é um festival dedicado às tendências da música de câmara portuguesa contemporânea.
Em 2022 | 23 consagra a sua 4ª edição ao Teatro-Música e ao desenvolvimento deste género musical em Portugal, intimamente ligado ao trabalho da compositora Constança Capdeville. À semelhança das edições anteriores, o CRIASONS além de dar continuidade ao seu objectivo principal: a promoção e divulgação da música portuguesa contemporânea, procurará contribuir para a renovação de um género performativo que foi impactante para a cultura musical portuguesa a partir de finais da década de 70 do século XX.
No contexto europeu, compositores como Luciano Berio, Bruno Maderna, Mauricio Kagel, Sylvano Bussotti, Dieter Schnebel, György Ligeti, Luigi Nono e outros, estão associados à produção de teatro-música. Estas obras que foram compostas logo após o final da Segunda Guerra Mundial resultaram de experiências revolucionárias a nível da linguagem musical. O teatro-música, desde então, passou por múltiplas e significativas transformações e ajudou a repensar experimentalmente as tradições teatrais, os géneros artísticos, as convenções da performance e a relação do compositor com a sociedade.
A concepção de teatro-música de Constança Capdeville, na linhagem de alguns dos compositores supramencionados, adquire um rumo muito pessoal. Capdeville cunhou o termo teatro-música em alternativa à expressão teatro musical, mais conotado com o cabaré, com a produção da Broadway, a performance art e eventuais associações ao happening ou a certas propostas de improvisação livre. O teatro-música na perspectiva de Capdeville visa romper com as formas canónicas (como a ópera e o concerto). Não existe apenas uma partitura convencional e/ou um libreto, existem guiões e várias partituras, assim como uma multiplicidade de narrativas, referências, técnicas e meios utilizados. Segundo a compositora, era essencial repensar o conceito de palco, colocando novos desafios tanto à criação, como à interpretação. As obras de teatro-música de Constança Capdeville combinam diversas expressões artísticas como a música, o teatro e a dança, isto constitui um “contraponto heterogéneo” entre elementos de naturezas distintas (música, cenários, movimento, texto, eletroacústica, imagem, adereços, figurinos, luz), resultando numa criação original e própria.
A partir da década de 90 do século XX, muitas das obras de teatro-música caíram no esquecimento, possivelmente por terem sido pensadas como atos únicos e não para serem repetidas. A sua escrita nem sempre era fixa (tal como a partitura convencional) e a comunicação com os performers gerava uma multiplicidade de documentos (e.g., cada interveniente tinha um guião), e a obra no seu todo reunia o conjunto deste trabalho colaborativo. A dispersão dos diferentes documentos, assim como as dificuldades de localizá-los, reuni-los, organizá-los e compreendê-los, levou a que muitas dessas obras fossem apresentadas uma única vez. O interesse do Festival CRIASONS nestas obras tem como intuito dar-lhes uma maior visibilidade e uma nova vida através da sua recriação em palco.
Nos tempos atuais, de grande instabilidade cultural, económica, social (e pandémica), a renovada atenção dada a aspetos não-sonoros, teatrais e performativos, aliada às preocupações da preservação do património cultural, levou a um ressurgimento do interesse por este género performativo e pela sua história. Hoje o teatro-música divide o palco e concorre com uma ampla variedade de géneros (como por exemplo as instalações); a sua presença é importante seja em termos históricos e de consciencialização para as gerações sucessivas, mas também pelo impacto e atualidade da sua proposta, que lança desafios ao público contemporâneo.
Constança Capdeville é a grande representante do teatro-música em Portugal, sendo por isso o ponto de partida para a escolha do repertório que será apresentado nesta 4ª edição do festival. Será proporcionado um diálogo intergeracional, perpetuada a memória e o legado de inúmeros artistas envolvidos com o teatro-música do passado, do presente e do futuro e sublinhado o contributo fundamental que deram às artes performativas em Portugal.
A 4ª edição do Festival CRIASONS além da difusão do teatro-música, visará dar um novo fôlego criativo ao contexto musical da criação musical portuguesa e o justo reconhecimento à vida e à obra da compositora Constança Capdeville.
O festival contará com a participação de seis compositores residentes, sendo um deles a própria Constança, reconhecendo nesta forma de homenagem a sua “imortalidade” - ou intemporalidade. Um segundo elemento será selecionado em concurso. Chamados a compor o painel foram ainda os “históricos” António de Sousa Dias e Paulo Brandão e os mais jovens nestas lides João Pedro Oliveira e Joana Sá.
Serão apresentados seis programas em Lisboa e estes terão um carácter itinerante, estando posteriormente em digressão pelo país (e estrangeiro). Os programas deverão conter música dos Residentes / programadores e de outros compositores da sua afinidade (Mauricio Kagel, Miguel Azguime, Cândido Lima, entre outros).
Ainda no âmbito do festival, proceder-se-á à seleção de um compositor que integrará o painel dos residentes; este terá como desafio compor uma obra no contexto do teatro-música, ficando assim estabelecida a ponte entre o passado, o presente e o futuro.
O júri a cargo desta selecção será constituído por todos os compositores residentes e ainda por Carlos Alberto Augusto (consultor técnico e artístico) e Filipa Magalhães (musicóloga, consultora académica). Os criadores a concurso deverão apresentar uma maquete completa de um espectáculo que inclua, pelo menos, uma obra original.
No que respeita à programação, o festival apresentará obras ou excertos de obras da compositora Constança Capdeville, assim como de outros compositores portugueses como Jorge Peixinho, Clotilde Rosa, Lopes e Silva, Miguel Azguime, entre outros, e de compositores estrangeiros como Mauricio Kagel, John Cage, Luciano Berio, Bruno Maderna, Louis Andriessen e outros. A interpretação destas obras ficará a cargo do Ensemble Musicamerata, de formação variável, e com a integração de novos elementos como bailarinos, atores, mimos, para responder às características e concepções de cada uma das obras.
A nível de calendarização, a programação do festival decorrerá ao longo do ano de 2022, incluindo a realização do Concurso. O CRIASONS terá início no final do ano de 2022 e continuará no ano de 2023, estando previstas entre 12 a 18 apresentações.
O Festival CRIASONS deverá integrar ainda uma componente pedagógica. Serão realizadas acções de formação como workshops ou colóquios, em colaboração com o Plano Nacional das Artes. Também estão previstas intervenções na área do cinema, possivelmente em colaboração com alguns dos Festivais que se realizam em Portugal.
PROGRAMAS
“FE..DE..RI..CO...”, de Constança Capdeville
Teatro Aberto, Lisboa, 4 e 5 de Novembro de 2022, 21:30 h
Criação – Constança Capdeville (1987)
Re-criação do espectáculo original a partir da investigação de Filipa Magalhães
O espetáculo FE...DE...RI..CO... foi imaginado e dirigido por Constança Capdeville (1937-1992), partindo da obra poética, plástica e musical de Federico Garcia Lorca, concebido com o intuito de comemorar o 50.º aniversário da morte do escritor espanhol. FE...DE...RI...CO... estreou na sala polivalente do Centro de Arte Moderna (CAM), promovido pelo ACARTE, Fundação Calouste Gulbenkian, no dia 10 de janeiro de 1987. O espetáculo insere-se no contexto do teatro-música, incluindo música original e colagens de Constança Capdeville.
FE...DE...RI...CO...Contou com a interpretação do grupo ColecViva que na época era formado por Olga Prats (piano), Alejandro Erlich-Oliva (contrabaixo), Luís Madureira (voz), João Natividade (movimento e mímica), Constança Capdeville (direção, piano e percussão) e António de Sousa Dias (assistente de direção, percussão, síntese de som); no espetáculo colaboraram também a nível técnico Paula Filipe Pires de Matos (assistente de som) e Paulo Graça (desenhador de luz); em termos cénicos houve a participação especial da atriz portuguesa Eunice Muñoz. Segundo Muñoz, a sua personagem atuava como uma figura omnipresente que observava todos os elementos envolvidos na performance. A compositora musicalmente recorre a citações de obras de García Lorca, Manuel de Falla e António de Sousa Dias; o texto, os poemas e os desenhos são da autoria de García Lorca e, para o espetáculo, o bailarino João Natividade, além de performer, teve ainda uma participação como artista plástico.
FE...DE...RI...CO... divide-se em quinze sequências: “Este é o Prólogo”, “Canção dos Ceifeiros”, “A voz do Poeta”, “Duplo Embalo”, “Silêncio”, “Mutação”, “Canção”, “Palimpsesto I”, “Duas Histórias com Sombras”, “Palimpsesto II”, “O Passeio de Buster Keaton”, “Estampa e Canção”, “Palimpsesto III”, “Introdução e embalo do espelho adormecido”, “Eu sei que o meu perfil será tranquilo”.
A compositora considerava a simbologia de Lorca extremamente rica, mas em FE...DE...RI...CO... optou por se concentrar em duas características, que segundo a própria lhe pareceram presenças constantes - 1) a canção de embalar Nana e 2) a exclamação “Ay amor...”. Na nota concebida por Capdeville, a compositora explicou que em FE...DE...RI...CO... fazem-se algumas referências a amigos de Lorca como, por exemplo, Salvador Dali, nomeadamente a obras como “Deus Gala dans le Couloir” ou “Angelus de Gala”; Lola Membrives, atriz argentina, cuja voz é utilizada no espetáculo FE...DE...RI...CO..., correspondendo o texto a um fragmento extraído da peça de teatro Bodas de Sangre de 1933, escrita em verso e em prosa por García Lorca; e, por fim, Manuel de Falla que, de acordo com Capdeville, Lorca muito admirava, sendo apresentada a canção de embalar Nana no final do espetáculo. Como referido por Capdeville, nessa mesma nota, a água, o espelho e o pregão são usados no espetáculo FE...DE...RI...CO... por serem os símbolos que, segundo a própria, não apenas marcavam a sensibilidade de Lorca, mas também expressavam o complexo e misterioso universo interior do poeta. A compositora esclarece como utilizou esses símbolos: o som da água, pré-gravado em fita magnética, inicia e finda a performance; o espelho, segundo ela, reflete o mundo imagético exposto pelos quadros de Salvador Dalí; e o pregão - “Carne membrillo de puente genil...” -, entoado por Luís Madureira no final do espetáculo, que foi retirado de uma recolha de pregões andaluzes efetuada por Filipe Capdeville, pai da compositora, em 1928 (segundo Janine Moura). Ainda nessa nota, Constança Capdeville justifica a escolha do título FE...DE...RI...CO..., dizendo que se liga a uma situação caricata que terá acontecido a Lorca. Certo dia o escritor parou assustado com a sensação de que alguém sussurrava o seu nome, sílaba a sílaba. Lorca ter-se-á virado e não viu nada, a não ser o movimento de ramos de um velho choupo que, ao entrechocarem, produziam um ruído monótono e triste que lhe parecia o seu nome.
Este espetáculo é uma recriação moderna da obra de Constança Capdeville, que, mantendo-se fiel ao objeto artístico original, procura pistas para a renovação do género musical Teatro-Música, permitindo o seu acesso às novas gerações de intérpretes e espetadores.
Intérpretes (ordem alfabética)
Ângelo Cid Neto - Movimento
Inês Filipe - Piano
Joana Manuel - Actriz
Mário Franco - Contrabaixo
Miguel Maduro-Dias - Voz
Taíssa Poliakova Cunha - Piano / Percussão
Ficha técnica
Musicamera:
Filipa Magalhães - Recriação cénica, produção
Élio Correia – Recriação cénica, produção
Anabela Gaspar – Desenho de Luz
Carlos Alberto Augusto – Consultor artístico
Brian MacKay - Consultor musical
António Sousa Dias – Consultor artístico
Luís Pacheco Cunha - Coordenação da produção
Mariana Silva Godinho – Produção
Henrique Lobo de Carvalho - Som
André Roma – Imagem
this is ground control – Comunicação e marketing
Teatro Aberto:
Marisa Fernandes - Direção de Cena
Miguel Verdades - Maquinista
Alberto Carvalho - Operação de luzes
Célia Caeiro - Produção
MUSICAMERA PRODUÇÕES gostaria de expressar os seus agradecimentos ao João Natividade, ao Luís Madureira e ao Carlos Guerreiro, pelo seu importante contributo na concretização deste projeto.
“Manifesto NaDa”, de António Sousa Dias
Teatro Aberto, Lisboa, 30 de Novembro de 2022, 21:30 h
Criação a partir de Manifestos DADA de Tristan Tzara.
MANIFESTO NADA inspira-se no irreverente movimento DADA, que no início do séc. XX provocou rupturas na percepção da arte e inspirou inúmeros artistas e colectivos de vanguarda. Tristan Tzara, considerado o precursor do movimento Dadaísta, afirma claramente com a publicação do livro “Sete Manifestos Dada” (1924) a ruptura entre poesia tradicional e poesia dadaísta, numa atitude provocatória de desconstrução e negação de todas as convenções culturais, sociais, morais, estéticas e linguísticas.
A música de António de Sousa Dias propõe uma viagem possível neste universo, cortejando a desconstrução, flirtando com a colagem, namoriscando a irreverência, num piscar de olhos a diferentes expressões musicais contemporâneas ou próximas do movimento DADA e onde a lógica não é a regra.
Ficha Artística
Música - António de Sousa Dias
Manifestos DADA - Tristan Tzara
Encenação - Alexandre Lyra Leite
Tradução - Rita Leite
Baritono - Rui Baeta
Soprano - Joana Manuel
Soprano - Célia Teixeira
Ensemble - Fábio Oliveira (trompete), Philippe Trovão (saxofone tenor), Guilherme Reis (contrabaixo), António de Sousa Dias (electrónica)
Ficha Artística
Joana Sá – música, textos e performance
Henrique Fernandes - instalação/dispositivo sonoro corpo-escuta
Rita Sá - ilustrações e vídeo (animação)
Ana Viana - elementos gráficos no vídeo
Sinopse
Henrique Fernandes e Joana Sá formam agora um duo inédito de instrumentos não-convencionais e piano preparado no qual som, performatividade e imagem confluem na criação de discursos musicais que convocam e desafiam os diversos sentidos.Are you there? – resonant cartography of music (im)materialities convoca os diferentes solos (do passado, presente e futuro) de Joana Sá, colocando-os em relação na construção de uma ideia de corpo-escuta. Relacionando-se também com um livro e uma instalação virtual, o espectáculo explora a ideia de cartografia ressonante através do formato específico de conferência-performance, colocando o corpo do espectador e ouvinte como primeiro elemento musical (i)material desta cartografia e desconstruindo a ideia de música enquanto “exterioridade”: Are you there?
A conferência-performance conta com as importantes colaborações artísticas do músico e artista sonoro Henrique Fernandes, na criação de uma instalação/dispositivo sonoro “corpo-escuta”, da artista plástica Rita Sá, na criação visual e vídeo (ilustração e animação) e da designer Ana Viana, na criação de alguns elementos gráficos do vídeo.
Are you there? - é uma conferência-performance de Joana Sá que faz parte de a body as listening - resonant cartography of music (im)materialities, um projeto mais amplo com múltiplos outputs: 1) um livro com o mesmo nome do projeto que sairá em 2023 pela Sistema Solar/Teatro Praga, que se estabelece não apenas enquanto reflexão e investigação “sobre” a prática musical e performativa de Joana Sá (ligada ao seu doutoramento realizado 2020), mas também, ele mesmo, como proposta performativa e musical; 2) uma instalação virtual que é autónoma, mas complementar à experiência do livro); 3) a conferência-performance Are you there? ; 4) o CD a body as listening que sairá no último trimestre deste ano; 5) a performance a body as listening com estreia prevista no início de 2024 na Culturgest.
Sobre Joana Sá
Joana Sá é pianista, compositora e investigadora. Com um trabalho prolifico, que se destaca pela transversalidade, interdisciplinaridade e multidimensionalidade, tem-se apresentado em importantes espaços de programação nacional e internacional, contando ainda com a edição de diversos registos quer a solo, quer com diferentes formações.
Ficha técnica:
Suse Ribeiro - Técnico de som
Miguel Ramos (Tela Negra) - Técnico de luz
Musicamera:
Brian MacKay – Director Artístico do Festival Criasons
Élio Correia – produção
Mariana Silva Godinho – Produção
Luís Pacheco Cunha - Coordenação da produção
Luís Garção – Comunicação e marketing
Ficha Artística
Paulo Brandão, Carlos Alberto Augusto - Criação Musical / Cénica
Músicos: Ensemble de Metais dirigido por João Paulo Fernandes, Paulo Brandão, Jorge Alves, Andrés Perez, Taíssa Poliakova Cunha, Adriano Aguiar
Sinopse
Um ambiente onírico e surrealista, só vagamente assimilável a um concerto... de facto nada parecido com nada que já tenha visto! Mas a sua visão do mundo ficará comprometida para sempre.
ÁRVORE METÁLICA é uma obra escrita em 1986 e foi estreada nos Encontros de Música Contemporânea pelos Metais de Lisboa , grupo a quem a obra é dedicada. Tem 6 intérpretes ( Trompetes. Trompa e Trombones). A exploração da desmontagem física dos instrumentos com reflexos na execução é a ideia central deste trabalho.
FANTASIA SINFÓNICA PARA VIRADORES DE PÁGINA é uma performance dedicada aos viradores de página que ao longo das existências têm colaborado abnegadamente nos êxitos ou desaires de tantos pianistas ou outros músicos. Consiste na execução de viragens de páginas (cronometricamente coordenadas) de materiais de densidade variável – do papel de seda a páginas de aço. A cada página corresponde uma géstica diferente, conforme a memória dos materiais empregues na sua confeção.
ACINESIA/AKINESIS, para violeta, electrónica e voz e A OBSERVAÇÃO DO TEMPO/ OBSERVING TIME para tarola, electrónica e voz, são duas peças que fazem parte de um ciclo concebido para um instrumentista, voz e electrónica, que recorrem a textos extraídos do livro The Parable of the Beast, de John Bleibtreu, A primeira foi estreada em 2003, no âmbito do festival Música Viva e a segunda tem aqui a sua estreia mundial. Este ciclo pode ser inserido no género que se convencionou chamar de teatro-música, que o autor explora desde há anos. Este ciclo é composto por obras muito compactas e “portáteis,” susceptíveis de poderem ser executadas em qualquer espaço, mais ou menos convencional, explorando um género que, neste caso particular, lança desafios inusitados aos instrumentistas.
As obras de Constança Capdeville Valse, Valsa, Vals; Keuschheits Waltz para piano solo (dedicada a Olga Prats) e Ámen por uma Ausência para contrabaixo solo, foram concebidas para apresentação nos seus espetáculos de Teatro / Música, com o Grupo Colec’Viva, nos anos 80.
Ficha Técnica
Musicamera:
Brian MacKay – Director Artístico do Festival Criasons
Élio Correia – produção
Mariana Silva Godinho – Produção
Luís Pacheco Cunha - Coordenação da produção
Luís Garção – Comunicação e marketing
Programa
Constança CAPDEVILLE
[Barcelona, 1937 - Oeiras, 1992]
Valse, Valsa, Vals; Keuschheits Waltz para piano solo
Intérprete – Taíssa Poliakova Cunha
Constança CAPDEVILLE
[Barcelona, 1937 - Oeiras, 1992]
Ámen por uma Ausência para contrabaixo solo
Intérprete – Adriano Aguiar
Carlos Alberto AUGUSTO
[Cascais, 1949]
Acinesia/Akinesis para viola, eletrónica e voz
Intérprete – Jorge Alves
Paulo BRANDÃO
[Lisboa, 1950]
Fantasia Sinfónica para Viradores de Página para actor e piano
Intérprete – Paulo Brandão
Carlos Alberto AUGUSTO
[Cascais, 1949]
A Observação do Tempo/ Observing Time para tarola, eletrónica e voz
Intérprete – Andrés Perez
Paulo BRANDÃO
[Lisboa, 1950]
Árvore Metálica
para sexteto de metais (2 trompetes, trompa, 2 trombones e tuba), mesa e “spare parts”
Direção musical: João Paulo Fernandes; Adriano Franco, Daniel Tapadinhas, trompetes; Sebastião Pereira, trompa; Renato Serra, Alexandre Vilela, trombones; Filipe Carvalho, tuba
Num café (em Paris) dois personagens dialogam entre si sobre o que é fundamental na criação artística. Um deles representa a racionalidade, a objetividade, o plano; o outro representa a intuição pura, a visceralidade do momento de criação.
Na sua discussão vão apresentando argumentos, dúvidas, sugestões. Chegarão a um consenso? Quem irá prevalecer?
O espetáculo será realizado num cenário de café, onde, além do elenco, estarão sentados elementos do público (8 a 10 pessoas); estes participantes involuntários assistirão in loco à ação podendo ser convocados para alguma interação.
Ficha Artística:
Música - João Pedro Oliveira
Texto - Miguel Mesquita da Cunha
Encenação - Alexandre Lyra Leite
Duo Contracello
Adriano Aguiar (contrabaixo)
Miguel Rocha (violoncelo)
Contralto - Beatriz Miranda
Barítono - Miguel Maduro Dias
Bailarino / garçon - Ângelo Neto
[Espetáculo com a duração aproximada de 50 minutos]
O Concurso CRIASONS desta edição contempla, para o vencedor, a possibilidade de criar um espetáculo de raiz, que incorpore a dinâmica e a filosofia deste género musical / cénico.
O nome deste criador será em breve divulgado nestas páginas, bem como o projeto a que se propõe dar vida.
AUTORIAS
Filipa Magalhães nasceu em Coimbra, em 1979. Frequentou o Curso de Canto da Escola de Música do Conservatório Nacional sob a orientação da professora Filomena Amaro. É licenciada em Ciências Musicais e mestre em Artes Musicais: Estudos em Música e Tecnologias pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa. Em fevereiro de 2020, concluiu o doutoramento no ramo de Ciências Musicais, especialidade de Ciências Musicais Históricas, na mesma Universidade. No âmbito da sua investigação dedica-se à preservação de obras no contexto do Teatro-Música, visando a sua documentação e estudo do ponto de vista musicológico e arquivístico. Na sua tese de doutoramento trabalhou especificamente sobre um conjunto de obras de teatro-música da compositora Constança Capdeville, tendo em vista a recuperação das mesmas através da sua documentação. Ainda no âmbito da sua investigação estagiou em várias instituições de relevo, tais como: o Arquivo Fonográfico de Viena, sob a orientação de Nadja Wallaszkovits; oIna–Institut National de l’Audiovisuel, um instituto de radio difusão pública cultural, recuperação e transmissão do património audiovisual francês, sob a orientação de Vincent Fromont; e o laboratório CSC–SMC / Soundand Music Computing Laboratories, sediado na Universidade dePádua, no qual decorreram as primeiras investigações sobre a aplicação de tecnologias eletrónicas e digitais ao som e à música, trabalhando diretamente com as coleções áudio de Luciano Berio e Luigi Nono, sob a orientação de Sergio Canazza. É atualmente membro do Grupo de Investigação em Música Contemporânea (GIMC), integrado no CESEM NOVA-FCSH.
Compositor, artista multimédia, performer e investigador, António de Sousa Dias (Lisboa, 1959) é doutorado em Estética, Ciências e Tecnologias das Artes, diplomado com o Curso Superior de Composição e divide a sua actividade entre a criação, a pesquisa e o ensino.É autor de obras explorando diversos géneros (instrumental, electro-acústico, misto), música para cinema e audiovisuais (ficção, documentário, animação), performance, teatro musical e cruzamentos disciplinares. Foi membro do grupo ColecViva (fundado por Constança Capdeville) e colabora desde 1992 com o Grupo Música Nova. No seu percurso, a multimédia, a instalação e a criação visual também desempenham um importante papel:“...há dois ou...”(1998),“Ce désert estfaux”(2012), A Dama e o Unicórnio (poema de Maria Teresa Horta, TMSL/Temps d’Images/Dom Quixote,2013; Pagine d’Arte, 2017), Monthey'04 (LIMSI, FR, 2008, Arc-et-Senan, FR,2012) da série Tonnetz (MNAC, Lisboa, 2011). É igualmente co-autor deNatureza Morta | Stillebende Susana de SousaDias (MNAC, Lisboa, 2010), de Vertiges del’image com o colectivo Les Phonogénistes (DVD, FR, 2011), do projecto Mutabilis com Paula Pinto e Daniel Rondulha (TDI16, 2016; MV17, 2017; CDI, 2018) e a criação sonora e musical e performance em A Greve dos Controladores de Voo, de Alexandre Lyra Leite (2020). No seu trabalho encontra-se igualmente uma preocupação com a preservação do património musical, manifesta na recuperação de obras musicais de compositores, como JorgePeixinho, Constança Capdeville ou Jean-Claude Risset, tendo em vista a sua divulgação através da disponibilização para performance/interpretação. Actualmente é Professor Associado do departamento de Arte Multimédia da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.
De seu nome completo Agustina Capdevilla Moreno, adotou Constança Capdeville com o nome artístico. Nasceu em Barcelona em 1937, em plena Guerra Civil Espanhola, e costumava dizer que tinha nascido debaixo do som de bombas. Na sequência dos tumultos político-sociais que se viviam no seu país de origem, em 1951, Capdeville muda-se juntamente com a sua família para Lisboa, tendo aqui permanecido até à data da sua morte, em1992.
As suas principais atividades repartiam-se entre a composição, o ensino e a interpretação. O seu percurso musical teve início na Escuela Normale del Ensino Particular, Academia del Centro Artistico Musical e Conservatorio del Liceo, ainda em Barcelona. Quando vem para Portugal, ingressa no Conservatório Nacional, tendo estudado com os professores Lourenço Varela Cid (piano), Santiago Kastner e Jorge Croner de Vasconcelos (composição). Os ensinamentos deste último professor, assim como a sua forte personalidade, deixaram marcas profundas em Capdeville, que perduraram até ao fim da sua vida. Nesta escola diplomou-se em Piano e Composição. Ainda enquanto aluna, ganhou o seu primeiro prémio de composição com a obra Variações sobre o nome de Igor Stravinsky, para órgão, de 1962. A busca incessante por novas experiências levou-a a frequentar seminários e cursos que lhe permitiram um contacto mais próximo com compositores como Philipp Jarnach, Günther Becker, Nadia Boulanger e Luís de Pablo, entre outros.
Esta multiplicidade de interesses repercutiu-se na diversidade de caminhos que trilhou, compondo obras para orquestra, música de câmara, instrumentos a solo, dança, teatro e cinema, e criando espetáculos cénico-musicais. Em 1969, a carreira de Capdeville sofreu um impulso determinante com a encomenda da obra 'Diferenças sobre um intervalo' por Maria Madalena de Azeredo Perdigão, obra que denotava já uma linguagem musical muito particular.
A partir da composição de Momento I(1070/71), obra que Capdeville considera como o seu Opus I, mostra uma rutura com as formas musicais tradicionais caracterizada pelo seu trabalho exploratório em dois aspetos fundamentais: o tempo e a pesquisa tímbrica. Capdeville marcou de uma forma indelével o panorama da música portuguesa de vanguarda, sobretudo a partir do terceiro quartel do século XX. A compositora destacou-se pela sua vasta produção no contexto do Teatro-Música, ligando a pesquisa sonora a elementos teatrais, gestuais e nunca desligando a música das outras artes. Para interpretar as suas obras de teatro-música, a compositora fundou, em 1985, o grupo ColecViva juntamente com Alejandro Erlich-Oliva (contrabaixo), João Natividade (coreografia, dança, movimento e mímica), Luís Madureira (voz), Olga Prats (piano), Oswaldo Maggi (mímica). Da sua principal produção destacam-se as obras: Momento I, Mise-en-Requiem, Libera Me (versão de concerto), In somno pacis (piano, oboé, viola e contrabaixo), Vocem meam (voz solo), Amen para uma ausência (versão 1–quarteto; versão II–instrumento solo), Border Line (sax solo), Dilontano fa specchio il mare – Joly Braga Santos, in memoriam (conjunto instrumental ad libitum); música para bailado Libera Me, Dimitriana, Lúdica, As Troianas; música para filmes Cerromaior (realização de Luís Filipe Rocha), Solo deViolino (realizado por Monique Ruttler); obras de teatro-música Don’t Juan, Memoriae quasi una fantasia II,Depois da valsa, FE...DE...RI...CO..., Pero non la luna, The Cage, Esboços para um Stabat Mater, Wom wom Cat(h)y–para Cathy Berberian.