Muito se vem discorrendo sobre a importância da preservação da identidade no nosso mundo, cada vez mais, global. Esta questão coloca-se, desde logo, ao nível do indivíduo, e ainda do grupo, do bairro, da cidade, da região, do país, do continente.
A consciência identitária, lato sensu, incorpora, pelo menos desde o racionalismo, a defesa de vários direitos – o direito à diferença, à cidadania, à cultura, à educação. Mas já nos primórdios dos tempos terá sido esta consciência a permitir a diferenciação do humano, como nível superior de senciência, de tal forma que o conceito viria a adquirir conotações éticas a par das biológicas e das sócio-culturais.
Mas é a preservação do seu conceito estrito que nos preocupa e mobiliza.
No domínio das artes a consciência identitária operacionaliza-se com e através do conceito de Cultura. O seu usufruto continuado no tempo e no espaço deixa um rasto na memória coletiva a que soemos chamar Património.
Detenhamo-nos um pouco neste termo – se a sua etimologia deriva do acto de herdar, já a sua aplicação jurídica corrente o caracteriza como um bem. Dir-se-ia que, em parâmetros culturais, expressa a incorporação íntima de um bem, de algo bom.
Mas trabalhar no património não se esgota na preservação / transcrição de objetos culturais do passado. Tanto mais que todo o presente é já passado. E a celebração do passado só adquire sentido numa perspetiva de futuro. É assim que neste continuum espácio-temporal, neste vórtice em que subliminarmente vagamos, o apelo criativo é a nossa melhor bússola identitária, a consciência do ser, a certeza do caminho onde confluem todas as dimensões do tempo.
É, pois, nesta dimensão que o investimento na criação se torna à uma o garante da consciência identitária e da celebração patrimonial. Reduzido que foi a pó o oxímero – património versus criação – é agora tempo de avançarmos para outra problemática.
Uma obra musical, desde que fixada em papel ou por meios mecanográficos, tem um valor semiótico a par do valor imaterial imanente à sua recriação pelo intérprete. Assim, enquanto arte performativa, a sua criação e usufruto convocam e conjugam, de forma complementar e indissociável, conteúdos patrimoniais materiais e imateriais.
Daí a cultura musical estar permanentemente exposta a uma praxis musical, da qual deriva a sua própria materialização.
Musicamera Produções é um batel que navega à vista destes conceitos e orientações. O nosso investimento nos seus já dezasseis anos de vida vem permitindo que depuremos essa sensibilidade e singremos com crescente firmeza os mares encapelados da contemporaneidade.
UM ANO DE 2025 CHEIO DE MÚSICA, ENERGIA E PAIXÃO!
Música, património e identidade: A Musicamera e a consciência identitária
