PROJECTOS EM CURSO
O CANTO DA OCIDENTAL PRAIA
COMEMORAÇÕES CAMONIANAS - 500 ANOS - ESTREIA EM JUNHO DE 2024
O PROJETO

O consagrado compositor, pianista, maestro, homem de letras, realizador e ator de cinema e televisão - esse verdadeiro “Homem da Renascença” que António Victorino d’Almeida se vem revelando ao longo dos seus 82 anos de vida -, recebeu, em 1973, da então Emissora Nacional, a encomenda de uma ópera, dedicada a Luís de Camões e destinada a ser representada no Teatro de São Carlos, em récita de gala comemorativa do 450º aniversário do nascimento do poeta.
Vicissitudes criadas pela censura no antigo regime, depois pelo período revolucionário que Portugal de Abril atravessou, e ainda outras tantas, próprias do clima de inércia cultural em que o país sempre sobraça, ditaram o adiamento sine die da estreia da ópera – situação que se perpetua há cinquenta anos! [i]
Agora que se avizinham as grandes comemorações camonianas dos 500 anos, um conjunto de organizações culturais – o Centro Cultural de Belém, o Coliseu do Porto, a Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo (Porto), o Festival de Ópera de Óbidos e a Musicamera Produções – conluiaram para retirar do baú o trabalho do maestro e proporcionar a sua apresentação pública – com toda a dignidade que merece e a que cinquenta anos de história emprestaram a sua patine – em eventos cujo epicentro serão aquelas festividades.
É assim que o Centro Cultural de Belém entendeu realizar a estreia desta mega- produção – que envolverá cerca de 180 intérpretes – no dia 10 de Junho de 2024. Seguem-se, depois, apresentações no Coliseu do Porto e no Festival de Óbidos.
Este projeto será, assim, uma co-produção entre o CCB, o Coliseu, a Direcção Geral das Artes, através do apoio às estruturas de produção envolvidas (Musicamera e ABA), a ESMAE, cujo Atelier de Pós- graduação em Ópera e Estudos Músico-Teatrais disponibiliza todos os seus recursos e know how, o Festival de Música de Óbidos, a Égide, e conta ainda com os apoios do Instituto Camões, da Presidência da República e da Comissão Comemorativa 50 Anos 25 de Abril.
[i] Foi feita uma apresentação, fragmentária, da peça, em 1975, uma produção sem cena e apressadamente montada, que deixou ao compositor pouco mais que tristes memórias...
A ÓPERA
Toda a ação se desenrola numa praia, mormente naquela zona à beira-mar em que a água vai e vem. Pretende simbolizar-se que a vida portuguesa sempre se desenrolou nessa borda de água, pelo que as personagens – ricos ou pobres, nobres, plebeus ou clérigos – também vivem de algum modo a chapinhar nessas meias águas…
O 1º Ato, trata essencialmente das famosas “contradições de Camões”, numa perturbadora oposição entre a lucidez do poeta lírico e o patriotismo belicista do poeta épico que exaltava a aventura dos descobrimentos, tal como fora orientada pelo Infante D. Henrique e seus seguidores. Com efeito, o libreto desta ópera salienta inúmeras mensagens poéticas que defendem – precisamente em “os Lusíadas” – princípios essenciais do Humanismo que não se coadunam com o aventureirismo expansionista e cego que minou em muitos aspetos a saga heróica dos descobrimentos. E são disso exemplo várias expressões que celebrizaram o famoso discurso do “Velho do Restelo”, sugerindo que, afinal, seria este quem estava de posse da razão. Pela mesma razão são convocados à ação figuras como Dante, Petrarca, Virgílio, cujas palavras tanto influenciaram a obra de Camões. E também o fero Adamastor que, afinal, transporta laivos de paixão arrebatada.
No 2º Ato revelam-se quadros da vida de Camões em Lisboa, dos seus conflitos com a vida intelectual da cidade, perfilando-se poetas seus contemporâneos – António Ferreira ou Pero Andrade de Caminha, Cariófilo e Parasito (personagens de Jorge Ferreira de Vasconcelos), um inquisidor, um frade, mendigos, soldados, personagens do bas fond – cena no Bordel “Mal Cozinhado” - mas também a sua amada, Dona Francisca de Aragão e a representação da escaramuça que dita o seu degredo.
O 3º Ato abre com a cena alucinante do naufrágio e um diálogo delirante do poeta com Dinamene. Adiante, Camões apresenta-se na corte de Dom Sebastião, que presenteia com os Lusíadas, permanentemente interrompido na sua leitura por cães e homens e censurado pelo Inquisidor que o corrige, numa feroz atitude censória. À morte miserável de Camões sucedem-se gentes de várias épocas até ao século XX, que o laudam em termos mais ou menos impercetíveis e incoerentes. Um garoto trauteia, em jeito de pregão, versos de Natália Correia: Poeta consagrado Foi Luís Vaz de Camões; Salvou uns versos a nado E nem ganhou dois tostões… Na cena final, Jau nada rumo ao desconhecido, enquanto o coro canta, ao longe, a última palavra dos Lusíadas: - Inveja.
EQUIPA ARTÍSTICA
Direção Musical - Brian MacKay
Encenação - Alex Aguillera
Dramaturgia - Maria de Medeiros
Orquestra Metropolitana e Orquestra da ESMAE
Coro Ricercare e Coro da ESMAE
PERSONAGENS
Camões
Dona Francisca de Aragão
Beatriz
Dinamene
Dante
Inquisidor
Petrarca
Morte
Maria da Rosa
Garcilaso de la Vega
Dom Sebastião
Leonardo
Ninfa
Parasito
Cariófilo
Pero Andrade de Caminha
António Ferreira
Pedro Mariz
Adamastor
Aias
Jau