O ponto de partida para esta ópera foi a surpreendente descoberta de um texto do dramaturgo russo do século XVIII Vassili Jukovski com o título “Camões”, cuja trama dramática fornece o ambiente e o contexto perfeitos para uma criação de teatro musical.
A cena descreve o encontro de um velho amigo de Camões, José de Quevedo Castelo Branco e do seu filho, Vasco Quevedo – por muitos considerado o herdeiro literário de Camões – com o poeta, que está já nos últimos anos da sua vida, esquecido e abandonado num asilo.
O drama, na forma muito próximo das “Pequenas Tragédias” de Alexander Pushkin, exalta a poesia e a criação como elixires da vida e alicerces da condição humana.
Como complemento ao belíssimo texto de Jukovski, que é adaptado e condensado para melhor servir os condicionalismos de uma produção de ópera (como é habitual em qualquer libreto), são introduzidos textos poéticos de Camões com carácter auto-biográfico, que vão ao encontro de situações narradas pelos dois amigos no texto de Jukovski.
A música tem como ponto de partida os paradigmas composicionais e instrumentais do século XVI – a época de Camões -, evidentemente inseridos num contexto actual, sendo por essa razão particularmente adequada a representações em espaços históricos com uma acústica ressonante.
Contexto cénico da produção
Este espetáculo, concebido com a flexibilidade insdispensável para permitir a ampla circulação a que a temática convida e proporciona, pode ser apresentado em palcos convencionais mas, também, em espaços monumentais e patrimoniais – claustros, conventos, palácios – que permitam enfatizar o enquadramento histórico da obra numa perspetiva de contextualização para que a música pretende, igualmente, contribuir.